sábado, 15 de julho de 2017

O que as palavras não dizem...

Ontem estava conversando com um amigo, e num trecho da conversa lhe disse algo óbvio, mas que repito sempre comigo por ser tão negligenciado por muitos.
"O que somos hoje é fruto de tudo aquilo que fomos submetidos pela vida".
E como já mencionei em outros posts, o que sou é resultado de todas as minhas experiências e o que tirei destas para minha vida.
Eu, além de ser humano comunicador, sou alguém que trabalhará com comunicação e, por isso tenho um pouco mais de habilidade com as palavras que bastantes pessoas não ligadas à área. Portanto, sei o poder  de um bom discurso, palavras mansas e amenas, ou as intenções de alguém com o que me diz. 
Talvez seja por isso que não dou muito valor às palavras. Porque as pessoas dizem algo, mas comunicam contrastes, paradoxos.
Palavras por palavras nada mais são que tal.  Posso, leitor, descaradamente falar que alguém é de meu apresso sem o ser (o que não combina comigo) ou driblar e reverter situações não favoráveis a mim apenas com as palavras certas. E é por isso que eu, desconfiada por natureza, não sou ingênua quanto a tal.
O motivo de tal texto não é nada em específico, apenas uma forma de compensar a última postagem que deixou muito a desejar.


Há vezes em que o silêncio fala mais que as palavras_ Foi algo assim que uma professora disse ontem em classe.
As pessoas dão valor imensurável às palavras, estão tão acostumadas à lê-las, usá-las para se expressar, tentar interpretar e perceber o que está ou não subentendido, que se esquecem que não apenas de palavras vive a comunicação.
É como a falácia daqueles que dizem que as fotografias retratam exatamente a realidade, sendo que vivemos num mundo em contínua modernização.
As pessoas esquecem que tudo em nós comunica e que a melhor interpretação ou o melhor modo de compreender mais ampla e verossimilhantemente algo é por meio daquilo que expressamos no automático, isto é, sem pensar e, não raras vezes sem sequer nos darmos conta.
E isto vai muito além de quando eu, por exemplo, sou rude sem perceber ou falo verdades que não precisariam se tornar públicas.
Refiro-me ao que está para além das palavras. Atenho-me ao não dito, não necessariamente nas entrelinhas.
Falo do que nosso corpo expressa e do próprio silêncio
Eu me refiro àquilo que às vezes está em nosso inconsciente e liberamos sem sabermos, sem percebermos.
É tão automático que somente quem está além de nós nota e, às vezes comenta ou, em se tratando de algo desagradável, opta por se afastar.


Esta semana foi meu aniversário e me senti meio indiferente a isso e ingrata ao chegar em casa e me deparar com minha família cantando parabéns e me presenteando.
Não tinha palavras para agradecer ou sequer esboçava muita alegria.
Brinquei dizendo que eu estava depressivamente feliz. É que as coisas, que já não têm sentido algum, perdem ainda mais quando nos damos conta da falta de nexo da vida.
Eu dizía obrigada pelos parabéns e pelos presentes, mas minha face, sem dúvida falava: "Por favor parem com isso. Não me sinto feliz por já ter 20". Mas eu não precisei expelir uma palavra sequer.
Como no jornalismo, no qual a experiência facilita nosso fazer, é assim no convívio.

Lembrei agora de quando eu era criança. Acho que eu havia quebrado alguma coisa e quando minha mãe chegou do trabalho transmiti a necessidade de conversar com ela sem dizer nada. E então ela me surpreendeu: "O que você quer me contar?" 

[...] Eu sou uma pessoa geralmente taciturna e ainda assim extremamente expressiva e sincera.
Se eu não gostar de você não espere um abraço falso
Se eu for apenas uma colega, não cogite um tratamento que dou a meus amigos
Se eu não gostar, fecharei minha cara (como diz minha genitora)
Se eu amar, você saberá
Se eu estiver feliz não precisarei necessariamente sorrir, pois minha expressão mudará independente disso
Se algo me agrada, meu olhar dirá
Se eu quero que fique, eu mostro. Não precisarei falar, a menos que pergunte
Se abro exceção a ti meio a uma agenda lotada (estudos não passeios ok?), considere-se importante
Se eu não quero, não me dou ao trabalho de procurar, quem dirá de ir embora porque eu sequer cheguei
Se sua presença é indevida não pedirei para que fique mais

Eu falo sem dizer
Converso sem palavras
E é verdade exatamente porque isso sou eu.
Pois o discurso, falado ou escrito, é passível de planejamento, alteração à medida do que se deseja atingir com ele
O "não dito" não. É espontâneo e revela ao menos um pouco de sua essência e do que há nela. Bom ou ruim, é verdadeiro.
Taí, essência.
Até que me provem o contrário ela é a única coisa imutável em nós.
Não há nada que eu valorize mais que a essência, pois ela é de verdade.
E quando a essência é boa, isto é, há uma boa índole, um bom coração...Estas pessoas, mais que as outras, conseguem com maestria mostrar sem dizer, sem mentir ou omitir...ou tentar te ganhar com um discurso fajuto qualquer.
Pois são essencialmente boas, ainda que passíveis de erros, demonstram algo da forma mais credível e verossímil, sem ter ciência disso, tudo aquilo que não é dito pelas palavras.



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