quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Um post sem sentido! Prometo que isto não será recorrente kkk

Olá pessoas
Bem.. Tenho estado mais omissa do que gostaria, mas a verdade é que não me tem vindo muita inspiração e ando me ocupando bastante com algumas coisas da faculdade que, por sinal, não tem me rendido frutos tão doces quanto eu gostaría. Porém, prefiro pensar que tudo é questão de tempo e que aprendizagem faz parte deste tempo. Que varia de indivíduo para indivíduo.
Enfim, esta postagem é reflexo de minha total falta de motivação para escrever um conteúdo razoável, mas, ao mesmo tempo significado de que não estou totalmente alheia ao meu blog. Apesar de parecer.
O tema é sobre a descrição de uma praça e do grupo que está nela, para um trabalho de antropologia que entrego amanhã. Fiz com um amigo, mas esta parte fui eu quem escrevi, por isto estou postando. 
Apesar de não saber se está de fato boa ( meu amigo fará alterações lá no nosso trabalho, se necessário) ou se é realmente isto uma etnografia kkkk, ao menos tentei e é o que vale. Acho que minimamente valeu a experiência e algumas palavras legais. 
É meio longo, mas espero que tenham paciência e gostem. 
Com amor, uma escritora não tão omissa assim <3



Uma praça é um local feito não somente para ornar um bairro, mas também para promover a interação entre as pessoas, possibilitando a elas um momento de lazer. Mas, atualmente, com toda a onda de violência e insegurança nas cidades, principalmente, o número de pessoas que frequentam este tipo de ambiente tem se tornado progressivamente mais escasso, ao ponto de uma praça ser tida como um local onde só é comum se frequentar em interiores.
O ambiente transmite calmaria e lembra bastante o clima interiorano. Aqui, a impressão que se tem é que não há pressa, não há vida lá fora ou quaisquer coisas com que se preocupar. No rádio de um senhor que estava sentado apreciando as pessoas passarem perto dele naquele meio de tarde fresco, tocava uma música que em muito nos faz lembrar de nossas avós a cantar. “Você é meu céu, você é minha vida”. Era o que dizia a letra da música “Meu cofrinho de amor” de Elino Julião. Desta forma fomos recebidos e percebemos, então, que estavamos no local certo.
Num local onde a pacificidade e a tranquilidade parecem imperar, a única figura que destoa do lema da praça é a de um carteiro que, apressado e dono de semblante duro e rijo, caminha rumo a mais um endereço. Ao nosso redor, as árvores nos dão a resposta do porque somente naquele momento, depois de uma busca implacável por um ambiente para explorar, tudo pareceu ganhar frescor e sombra. O lugar é agradável de se estar e parece que não foram somente nós que percebemos isto. As pessoas ali são predominantemente idosas e parcem não serem compostas de outra coisa senão da mais pura e singela felicidade.
Um pouco mais distante de nós, um grupo contendo cerca de 20 senhores jogando baralho e dominó. Negros e brancos, gordos e magros, de pé ou sentados, eles jogam sem muito barulho, apenas algumas palavras e frases curtas são lançadas. O foco parece ser a partida. Alguns fumam, os outros não dão sinal algum de incômodo com o cheiro. Aparentam ter idades muito próximas e se vestem de forma similar: bonés ou boinas, camisas: de time, escola ou regatas; bermudas jeans e chinelas.
Na mesinha e bancos fixos em que estão, cartas de baralho; dominós; dados; uma caixa com fichas e um burburinho. Eis que um deles se exalta e outros também o fazem. Alguém trapaceou e isto não passaria despercebido. Alguns deles elevam a voz na tentativa de serem ouvidos meio a todo o falatório e, então, tudo se acalma outra vez. Eles parecem ter sanado o problema e punido o trapaceiro. Agora riem e continuam a jogar como se nada tivesse ocorrido.
Por perto, um outro senhor passeia com seu poodle, uma moça volta da academia e algumas crianças brincam em amarelinhas desenhadas no chão e em outros brinquedos que, inclusive, num deles, marcas de xixi são percebidas por olhos atentos.
Um dos senhores que joga baralho com seu grupo decide dar uma pausa. O motivo é que ele está apertado e precisa urinar. Sem pudor algum, levanta e vai até a árvore mais próxima. À luz do dia, publicamente, alivia-se ali mesmo e volta à partida, sentando-se em um banquinho que parece ter sido ele próprio quem trouxe de casa . O mais inusitado é que logo ao lado há uma creche e naquele mesmo momento algumas crianças são liberadas. Ninguém parece se afetar.
Enquanto um carro de som passa em frente a um palco com pichações, anunciando que haverá um culto na capela S. Francisco de Assis naquela noite, a mãe de uma das crianças segura suas pequenas mãos e vai em direção a um senhor que vende cocos a 1 real a unidade. Valor que, em bairros nobres, orla ou praia não pagaria nem metade.  Mais a frente, uma moça com uniforme laranja da empresa  BTS varre o chão. E um rapaz da mesma empresa, um pouco mais distante, faz o mesmo serviço. Há muitas sacolas pretas com folhas secas amareladas recolhidas na ponta da calçada e seu serviço parece estar surtindo efeito.
Lá, contudo, outros grupos, além dos idosos, estavam presentes. Na quadra poliesportiva, de basquete e futsal, muitos jovens suados deixavam a bola escapar da quadra, fazendo-nos interagir com eles. Dos 10 bares espalhados, apenas dois estavam abertos e não contavam com pouco mais que dois clientes cada. Um dos bares toca uma música cuja letra fala sobre a partida de alguém amado “...mas você chegou para mim e disse adeus...”, enquanto o segundo, com a televisão ligada, exibe uma novela mexicana.
As barras de ginástica, outrora vazias, foram ocupadas por dois rapazes. Na rua, outros dois poodles passeiam com seus donos. Em dois dos muitos bancos coloridos dispersos, há casais tendo relações demasiadamente afetivas sem se importarem com quem está ao redor.
Agora o sol está mais suave, o relógio indica 16:08. As folhas que ainda não foram postas naqueles sacos de lixo pretos adornam o chão embelezando o local, dando-lhe aparência de outono. Árvores de jamelão, coqueiros, dentre outras espécies, agora, dançam com o vento, enquanto os pássaros bem-te-vis responsabilizam-se pela melodia.
E não cessa o vai e vem de pessoas por ali. Agora não só crianças pequenas brincam no parquinho, mas também outras, um pouco mais velhas, percorrem a extensa praça com suas ávidas bicicletas. Enquanto um grupo de jovens, sentados, conversam entre si, deixando as suas recostadas próximas a eles.
Perto de uma das árvores, algumas seringas, mas nenhum hospital por perto. O que sugere que há pessoas que fazem uso de drogas durante o período da noite. Mesmo com uma caixa para coleta seletiva próxima, há, além disso, embalagens plásticas no entorno, o que posterga o fim do serviço dos dois trabalhadores que varrem o local.
Mas além deles, na outra ponta da praça, estão vendedores ambulantes com suas barracas de: frutas, pastéis, caldo de cana, queijos, etc. Um morador de rua, bem próximo deste mini comércio de comidas que é esta parte da praça está acompanhado por muitas coisas as quais muitos chamariam de entulho, e que nada mais é que sua moradia. Ele é bastante idoso, tem um semblante sério e traz consigo um quadro com uma pintura de pirâmides em tons azul e rosa, feitas numa porta de guarda-roupa.
O ponto de ônibus logo ao lado dele e em frente ao mini comércio de comidas está lotado de pessoas que esperam seus coletivos cujas linhas são para alguns distintos interiores. Funcionários da empresa Torre, sentados no chão da praça, esperam o turno começar. O celular que fotografava pontos chamativos aos nossos olhos, a esta altura já estava descarregado, impossibilitando novas imagens.
Um segundo senhor urina. Desta vez já não nos gera qualquer espanto ou riso de estranhamento, o que revela que já nos sentimos imersos e à vontade o suficiente naquele lugar que já se tornou também um pouco nosso. Esgoto, urina e cigarro, é o que se sente nesta parte da praça que estamos agora, a qual o segundo idoso se aliviou sem preocupação.
Alguns dos senhores ao voltarem da farmácia ou supermercado param para olhar os outros jogarem e alguns entram no jogo. Enquanto o rapaz do coco guarda seu material de trabalho, o dono de um terceiro bar inicia seu expediente. O sol se põe, partimos ao som da última canção “ Trago o que me faz feliz. Nosso filho que eu não fiz e o cachorro de estimação” (cantor desconhecido).
A praça é como o centro do bairro e é engraçado e contraditório porque o que se espera de um lugar considerado como o centro é que ele seja simbolizado e representado pelo barulho e estardalhaço. Mas, serenidade é provavelmente a melhor palavra para defini-lo. É como se ela fosse um mundo a parte de todo o estresse e poluição sonora percebidos ao emergirmos dela. Na praça tudo é calmo, fora dela, poucos segundos depois, já é possível ouvir uma miscelânea de sons: ambulância, buzinas, carros, pessoas falando ao celular e muito movimento ligeiro de gente que corre tentando acompanhar o tempo que parecia não correr na praça.
No início daquela tarde, ao percebermos aquele local com várias pessoas, a curiosidade que se instalou veio com a seguinte pergunta: “Quem fica em praças?” e à medida que fomos consumidos pelo clima do ambiente, mudamos o questionamento, ao sairmos de lá, para “Por que não ficamos mais em praças?”.
Foi assim, preenchidos por um turbilhão de inexpressivas sensações incabíveis em nós mesmos e que seríam imperceptíveis se tivessemos sido alheios àquele local, que saimos de lá. Despedindo-nos da estátua de bronze que dá o nome àquela praça.

Nos galhos secos de uma árvore qualquer
Onde ninguém jamais pudesse imaginar
O Criador vê uma flor a brotar

Catedral
Trecho da música “Galhos Secos”

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