Olá pessoas
Bem.. Tenho estado mais omissa do que gostaria, mas a verdade é que não me tem vindo muita inspiração e ando me ocupando bastante com algumas coisas da faculdade que, por sinal, não tem me rendido frutos tão doces quanto eu gostaría. Porém, prefiro pensar que tudo é questão de tempo e que aprendizagem faz parte deste tempo. Que varia de indivíduo para indivíduo.
Enfim, esta postagem é reflexo de minha total falta de motivação para escrever um conteúdo razoável, mas, ao mesmo tempo significado de que não estou totalmente alheia ao meu blog. Apesar de parecer.
O tema é sobre a descrição de uma praça e do grupo que está nela, para um trabalho de antropologia que entrego amanhã. Fiz com um amigo, mas esta parte fui eu quem escrevi, por isto estou postando.
Apesar de não saber se está de fato boa ( meu amigo fará alterações lá no nosso trabalho, se necessário) ou se é realmente isto uma etnografia kkkk, ao menos tentei e é o que vale. Acho que minimamente valeu a experiência e algumas palavras legais.
É meio longo, mas espero que tenham paciência e gostem.
Com amor, uma escritora não tão omissa assim <3
Uma praça é um local
feito não somente para ornar um bairro, mas também para promover a interação
entre as pessoas, possibilitando a elas um momento de lazer. Mas, atualmente,
com toda a onda de violência e insegurança nas cidades, principalmente, o número
de pessoas que frequentam este tipo de ambiente tem se tornado progressivamente
mais escasso, ao ponto de uma praça ser tida como um local onde só é comum se
frequentar em interiores.
O ambiente transmite
calmaria e lembra bastante o clima interiorano. Aqui, a impressão que se tem é
que não há pressa, não há vida lá fora ou quaisquer coisas com que se
preocupar. No rádio de um senhor que estava sentado apreciando as pessoas
passarem perto dele naquele meio de tarde fresco, tocava uma música que em
muito nos faz lembrar de nossas avós a cantar. “Você é meu céu, você é minha
vida”. Era o que dizia a letra da música “Meu cofrinho de amor” de Elino
Julião. Desta forma fomos recebidos e percebemos, então, que estavamos no local
certo.
Num local onde a
pacificidade e a tranquilidade parecem imperar, a única figura que destoa do
lema da praça é a de um carteiro que, apressado e dono de semblante duro e
rijo, caminha rumo a mais um endereço. Ao nosso redor, as árvores nos dão a
resposta do porque somente naquele momento, depois de uma busca implacável por
um ambiente para explorar, tudo pareceu ganhar frescor e sombra. O lugar é
agradável de se estar e parece que não foram somente nós que percebemos isto.
As pessoas ali são predominantemente idosas e parcem não serem compostas de
outra coisa senão da mais pura e singela felicidade.
Um pouco mais
distante de nós, um grupo contendo cerca de 20 senhores jogando baralho e
dominó. Negros e brancos, gordos e magros, de pé ou sentados, eles jogam sem
muito barulho, apenas algumas palavras e frases curtas são lançadas. O foco
parece ser a partida. Alguns fumam, os outros não dão sinal algum de incômodo
com o cheiro. Aparentam ter idades muito próximas e se vestem de forma similar:
bonés ou boinas, camisas: de time, escola ou regatas; bermudas jeans e
chinelas.
Na mesinha e bancos
fixos em que estão, cartas de baralho; dominós; dados; uma caixa com fichas e
um burburinho. Eis que um deles se exalta e outros também o fazem. Alguém
trapaceou e isto não passaria despercebido. Alguns deles elevam a voz na
tentativa de serem ouvidos meio a todo o falatório e, então, tudo se acalma
outra vez. Eles parecem ter sanado o problema e punido o trapaceiro. Agora riem
e continuam a jogar como se nada tivesse ocorrido.
Por perto, um outro
senhor passeia com seu poodle, uma moça volta da academia e algumas crianças
brincam em amarelinhas desenhadas no chão e em outros brinquedos que,
inclusive, num deles, marcas de xixi são percebidas por olhos atentos.
Um dos senhores que
joga baralho com seu grupo decide dar uma pausa. O motivo é que ele está
apertado e precisa urinar. Sem pudor algum, levanta e vai até a árvore mais
próxima. À luz do dia, publicamente, alivia-se ali mesmo e volta à partida,
sentando-se em um banquinho que parece ter sido ele próprio quem trouxe de casa
. O mais inusitado é que logo ao lado há uma creche e naquele mesmo momento
algumas crianças são liberadas. Ninguém parece se afetar.
Enquanto um carro de
som passa em frente a um palco com pichações, anunciando que haverá um culto na
capela S. Francisco de Assis naquela noite, a mãe de uma das crianças segura
suas pequenas mãos e vai em direção a um senhor que vende cocos a 1 real a
unidade. Valor que, em bairros nobres, orla ou praia não pagaria nem metade.
Mais a frente, uma moça com uniforme laranja da empresa BTS varre o chão.
E um rapaz da mesma empresa, um pouco mais distante, faz o mesmo serviço. Há
muitas sacolas pretas com folhas secas amareladas recolhidas na ponta da
calçada e seu serviço parece estar surtindo efeito.
Lá, contudo, outros
grupos, além dos idosos, estavam presentes. Na quadra poliesportiva, de
basquete e futsal, muitos jovens suados deixavam a bola escapar da quadra,
fazendo-nos interagir com eles. Dos 10 bares espalhados, apenas dois estavam
abertos e não contavam com pouco mais que dois clientes cada. Um dos bares toca
uma música cuja letra fala sobre a partida de alguém amado “...mas você chegou
para mim e disse adeus...”, enquanto o segundo, com a televisão ligada, exibe
uma novela mexicana.
As barras de
ginástica, outrora vazias, foram ocupadas por dois rapazes. Na rua, outros dois
poodles passeiam com seus donos. Em dois dos muitos bancos coloridos dispersos,
há casais tendo relações demasiadamente afetivas sem se importarem com quem
está ao redor.
Agora o sol está mais
suave, o relógio indica 16:08. As folhas que ainda não foram postas
naqueles sacos de lixo pretos adornam o chão embelezando o local, dando-lhe
aparência de outono. Árvores de jamelão, coqueiros, dentre outras espécies,
agora, dançam com o vento, enquanto os pássaros bem-te-vis
responsabilizam-se pela melodia.
E não cessa o vai e
vem de pessoas por ali. Agora não só crianças pequenas brincam no parquinho,
mas também outras, um pouco mais velhas, percorrem a extensa praça com suas
ávidas bicicletas. Enquanto um grupo de jovens, sentados, conversam entre si,
deixando as suas recostadas próximas a eles.
Perto de uma das
árvores, algumas seringas, mas nenhum hospital por perto. O que sugere que há
pessoas que fazem uso de drogas durante o período da noite. Mesmo com uma caixa
para coleta seletiva próxima, há, além disso, embalagens plásticas no entorno,
o que posterga o fim do serviço dos dois trabalhadores que varrem o local.
Mas além deles, na
outra ponta da praça, estão vendedores ambulantes com suas barracas de: frutas,
pastéis, caldo de cana, queijos, etc. Um morador de rua, bem próximo deste mini
comércio de comidas que é esta parte da praça está acompanhado por muitas
coisas as quais muitos chamariam de entulho, e que nada mais é que sua moradia.
Ele é bastante idoso, tem um semblante sério e traz consigo um quadro com uma
pintura de pirâmides em tons azul e rosa, feitas numa porta de guarda-roupa.
O ponto de ônibus
logo ao lado dele e em frente ao mini comércio de comidas está lotado de
pessoas que esperam seus coletivos cujas linhas são para alguns distintos
interiores. Funcionários da empresa Torre, sentados no chão da praça, esperam o
turno começar. O celular que fotografava pontos chamativos aos nossos olhos, a
esta altura já estava descarregado, impossibilitando novas imagens.
Um segundo senhor
urina. Desta vez já não nos gera qualquer espanto ou riso de estranhamento, o
que revela que já nos sentimos imersos e à vontade o suficiente naquele lugar
que já se tornou também um pouco nosso. Esgoto, urina e cigarro, é o que se sente
nesta parte da praça que estamos agora, a qual o segundo idoso se aliviou sem
preocupação.
Alguns dos senhores
ao voltarem da farmácia ou supermercado param para olhar os outros jogarem e
alguns entram no jogo. Enquanto o rapaz do coco guarda seu material de
trabalho, o dono de um terceiro bar inicia seu expediente. O sol se põe,
partimos ao som da última canção “ Trago o que me faz feliz. Nosso filho que eu
não fiz e o cachorro de estimação” (cantor desconhecido).
A praça é como o
centro do bairro e é engraçado e contraditório porque o que se espera de um
lugar considerado como o centro é que ele seja simbolizado e representado pelo
barulho e estardalhaço. Mas, serenidade é provavelmente a melhor palavra para
defini-lo. É como se ela fosse um mundo a parte de todo o estresse e poluição
sonora percebidos ao emergirmos dela. Na praça tudo é calmo, fora dela, poucos
segundos depois, já é possível ouvir uma miscelânea de sons: ambulância,
buzinas, carros, pessoas falando ao celular e muito movimento ligeiro de gente
que corre tentando acompanhar o tempo que parecia não correr na praça.
No início daquela
tarde, ao percebermos aquele local com várias pessoas, a curiosidade que se
instalou veio com a seguinte pergunta: “Quem fica em praças?” e à medida que
fomos consumidos pelo clima do ambiente, mudamos o questionamento, ao sairmos
de lá, para “Por que não ficamos mais em praças?”.
Foi assim,
preenchidos por um turbilhão de inexpressivas sensações incabíveis em nós mesmos e que seríam
imperceptíveis se tivessemos sido alheios àquele local, que saimos de lá.
Despedindo-nos da estátua de bronze que dá o nome àquela praça.
Nos galhos secos de
uma árvore qualquer
Onde ninguém jamais
pudesse imaginar
O Criador vê uma
flor a brotar
Catedral
Trecho
da música “Galhos Secos”
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